
O escrito que propusemos refletir ao longo deste semestre constitui a fonte mais importante sobre as origens franciscanas, numa vez que a Regra não Bulada tem como ponto de partida o encontro decisivo de Francisco com o Evangelho de Jesus Cristo. A sua reação ao impacto do Evangelho foi imediata: “É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que desejo de todo o meu coração” (1Cel 22).
Vendo que o número deles estava aumentando a cada dia, Francisco escreve para si e para os frades presentes e futuros, com simplicidade e brevidade, uma forma de vida, isto é, uma Regra, composta sobretudo de passagens evangélicas: “viver em obediência, em castidade e sem nada de próprio e seguir a doutrina e os vestígios de Nosso Senhor Jesus Cristo, que diz, Se queres ser perfeito, vai e vende tudo o que tens e dá aos pobres e terás um tesouro no Céu; e vem, segue-me”.
Entretanto convém, em primeiro lugar, esclarecer um pouco o significado de uma “Regra” Numa primeira análise o termo regra pode ser compreendido como um enquadramento da inspiração inicial. Mas, uma memória simples e conhecida: Jesus. Notar-se-á, que Ele viveu “sob a Lei, para redimir os que estavam sob a Lei” (Gl 4,4), isto é, viveu sobre a Torá, a Regra de seu povo. Neste sentido todo povo tem sua organização social, suas Constituições, seus costumes, com um núcleo e um fundamento sagrado e religioso. Porém, a Lei não salva! Pois o amor é pleno cumprimento da Lei. Portanto, há uma tensão entre Regra e Vida, Lei e Evangelho.
A Regra franciscana não nasce como um projeto de vida, mas toma forma e conotação de uma experiência de vida. Por conseguinte, a Regra contém o projeto evangélico, que Francisco iniciou com os seus primeiros irmãos para viver o seguimento de Jesus Cristo. Desta maneira, os conselhos evangélicos são uma concreção da radicalidade ao Evangelho. Portanto, “viver em obediência, castidade e sem nada de próprio” é o grau mais intenso e máximo do engajamento ao projeto de Jesus Cristo.
Por fim, Francisco viveu segundo a forma do santo Evangelho, que constituiu a “Vida e Regra” para os seus primeiros companheiros que estavam dispostos a vivê-la, seguindo a doutrina e os vestígios de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois, o modo como Francisco encarnou a vivência do Evangelho transformou-se paulatinamente como uma forma de vida, não como um rígido ordenamento jurídico, mas sim, como uma concretização dinâmica do Evangelho.
Frei Reinaldo Azevedo da Silva, OFMConv. (Seminário Maior Senhor do Bonfim)